domingo, 11 de novembro de 2007

Sotaque Britânico, Lições e Saudades

Mariana e Thaís estavam conversando pelo msn... uma conversa que começou bem estilo 'as duas'...

- E aí, Rin? - disse Thaís, sabendo que esse era um dos apelidos que a amiga mais gostava
- Ele é tão bonito, Aaya!!!!!!! - disse Mariana, rindo-se, depois da sua depois da sua 'debilidade mental' diante do vocalista de uma certa banda britânica.

(...)

Depois, começaram a conversar sobre o ano, que estava acabando... nossa, o primeiro ano de faculdade das duas. Elas falaram tanto sobre como seria esse ano, sobre como seria o trote, o medo que elas tinham... e que estavam crescendo.
Mariana lembrou-se da morte do seu avô, um dia antes de começarem as aulas e lembrou-se de como ela já sabia o que tinha acontecido quando sua mãe entrou no quarto para contar o ocorrido, mas não mencionou isso para a amiga.
Descer as escadas amarrada e cantando 'Atirei o Pau no Gato', toda cheia de farinha (elas demoraram 3 dias pra conseguir tirar tudo aquilo do cabelo), e de como sua vó não a viu o dia do trote por ainda não ter voltado da igreja. Não tem fotos desse dia, e ela agora se lamenta muito por isso.
Thaís contou vagamente do desfile das bixetes, e como no começo era tudo novidade e incrivelmente fascinante.

(...)

Esse primeiro ano de faculdade trouxe tantas coisas... coisas que agora elas se recordam com saudades... coisas que foram mais do que esperavam e coisas que as decepcionaram.
Momentos que as fizeram imensamente felizes e outros que as derrubaram, tirando suas forças.
Lições que aprenderam a duras penas - e outras nem tanto assim - e que levaram pra toda a vida.
Amigos, pessoas especiais, lembranças, memórias, saudades... e tudo o mais que um ano inteiro pode acarretar.
Um ano que foi o melhor de suas vidas, apesar de tantas coisas ruins que aconteceram.

(...)

Agora, elas se dão conta de como isso é importante; sentem falta do que passou, percebem que estão crescendo, mas que a vida continua não importa o que aconteça.
E que no fim, o que vale a pena, realmente, são as coisas boas que conseguimos guardar, ainda que no fundo de nosso coração ou memória.
E os amigos... ah!, os amigos... esses devem permanecer em nossas vidas pra sempre... é tão difícil deixá-los ir... algo deles sempre permanece conosco e marca nossas vidas para sempre...

(...)

E ao som dos Arctic Monkeys, continuamos relembrando.
Afinal, como eles mesmos dizem: 'Nothing seems as pretty as the past..."

domingo, 23 de setembro de 2007

Meus pensamentos cada vez mais confusos
Suas palavras cada vez mais vagas
Meus medos cada vez mais evidentes
Minhas idéias cada vez menos coerentes
Minhas vontades ultrapassando o meu juízo
A vida dando voltas inimagináveis
Meus sentimentos tomando o lugar da razão
Minhas forças "fraquejando" sem o menor aviso
Minha consciência se esvaindo a cada vez que eu te vejo
Minha confusão cada vez mais clara
Suas intenções sempre expostas...
E a vida segue, fugindo ao meu controle...

domingo, 26 de agosto de 2007

"Acabou... o que se pode fazer? Não tenho mágoas nem rancor. Não tenho dúvidas sobre o que passou. Não tenho medo de enfrentar o que me vem pela frente. E apesar de tudo, eu espero que você seja feliz.
Eu espero que ela seja a melhor coisa que te aconteceu.
Espero que ela se sinta do mesmo jeito.
Espero que ela saiba cuidar de você, como eu tantas vezes tentei fazer.
Espero que o seu orgulho besta não atrapalhe você e que você aprenda... nada específico, mas tudo na vida tem uma lição a ensinar.
Espero que ela te faça sentir como se o chão fosse feito de nuvens.
Espero que ela te deixe sem palavras. Sem ar. Sem chão.
Espero que você espere por cada beijo dela como se sua vida dependesse disso.
Espero que cada beijo dela te faça ter certeza que a tua vida não é em vão.
Espero que você sinta aqueles calafrios toda vez que olhar pra ela.
Espero que essa sensação não passe nunca, porque é tão bom...
Espero... simplesmente espero.
Espero pelo dia em que você vai abrir os seus olhos.
Espero que você se permita sentir.
Eu desejo de todo o meu coração que você não tenha medo (porque eu sei o quanto você odeia sentir-se vulnerável...).
Espero que quando você estiver com ela, não consiga dormir. Mas espero que quando estiver sem ela, passe a noite em claro.
Espero que cada nascer-do-sol te deixe num estado indescritível... e que cada pôr-do-sol te faça pensar nos momentos que vocês passaram juntos.
Espero que um dia, você a ame de verdade.
Espero que dê certo entre vocês.
E se não der... eu simplesmente espero que você saiba a hora de desistir.
Espero que você não sofra.
Espero que você não tente lutar por um amor impossível.
Espero que você entenda que a vida vai continuar com ou sem ela.
Independente disso, eu espero que um dia você encontre alguém que seja tão importante pra você quanto você foi pra mim.
E espero que você ame alguém do jeito que eu te amei. Porque, se por um instante ao menos, você tiver certeza de que foi correspondido, tudo terá valido a pena.
De qualquer forma, eu desejo que você fique bem, sem clichês, eu digo isso de todo o meu coração.
Eu ainda te amo, provavelmente sempre amarei.
Meu coração ainda dispara toda vez que eu ouço a tua voz. Toda vez que eu sei que você vai se aproximar.
Mas agora simplesmente não importa."

(...)

Ela sentou na cama. Estivera escrevendo por três horas seguidas e colocou todos os seus pensamentos mais profundos nessa carta. Ela havia pensado por tanto tempo sobre isso, e ainda agora parecia que sua mente estava em branco.
Mas ela já não estava mais preocupada.
Levantou-se da cama, e andou até o armário. Abriu a porta e pegou uma caixinha, com várias outras cartas, todas escritas em momentos diferentes, mas que bem como essa...
Com um suspiro, colocou a carta nessa caixinha e pensou: "Eu espero - não apenas espero, como desejo de todo o meu coração - que um dia eu tenha a coragem necessária pra te dizer tudo isso.
Se não, me contentaria ao menos em te entregar essa carta". Ela fechou os olhos junto com a porta do armário. Apoiou-se nela.

(...)

Ela voltou para a cama. E finalmente ela perdeu o chão, perdeu o ar, perdeu as forças de lutar contra tudo aquilo e chorou, como uma criança. Naquele momento, ela se esqueceu de quem era... e adormeceu depois de muito tempo...

sábado, 25 de agosto de 2007

"Querido Diário..."

Se não faz sentido, o que fazer?
Se não faz sentido te querer
Se não faz sentido te perder
Se não vale a pena te amar
Se eu sempre preciso duvidar
Se eu sempre preciso ter você aqui
Por que eu sempre preciso ver você sorrir?
Por que não faz sentido precisar?
Por que você sempre tem que me fazer chorar?
Por que você sempre me faz sofrer?
Tudo o que eu quero é estar com você
Talvez não faça sentido
Simplesmente por não fazer
Porque eu preciso ouvir sua voz
Preciso que você fale dos planos que tem pra nós
Preciso que você diga que se sente do mesmo jeito
Preciso que você faça essa insanidade perder o efeito
Preciso das suas forças
Preciso dos seus medos
Preciso da sua boca
Eu morro por teus beijos
Talvez não faça mesmo sentido
Simplesmente por não fazer
Talvez o amor seja mesmo irracional
Mas sentí-lo é o que nos faz viver.



Então, crianças... é isso o que acontece quando a gente ouve Djavan ^^... ahahahahahahaha

domingo, 19 de agosto de 2007

Maria Vitória


Tem coisas na vida que a gente sabe que não vai esquecer nunca... e essa, sem dúvidas, é uma delas...
Hoje... eu fui visitar a família do meu vô, numa cidade pertinho aqui de casa... uns 40 minutos de carro...
Numa dessas, nós fomos na casa de um primo meu... ele é novinho, não tem nem 30 anos... a esposa dele, também ^^
E eles têm a filhinha mais linda desse mundo... o nome dela (como já deve ter dado pra imaginar) é Maria Vitória. E ela é um anjinho mesmo. É uma daquelas crianças pelas quais você se apaixona instantaneamente... e não tem mais volta.
Como qualquer criança de quase dois anos que se preze, ela tem medo de quem nunca viu na vida... não dá confiança mesmo. Mas, depois de um tempinho, de eu ter sentado no chão com ela, ter deixado ela brincar com a minha pulseira de bolinha (do Kyo...), ter visto ela tomando uma mamadeira com leite cor-de-rosa "Quick" (por causa de um desenho, que ela queria porque queria igual...), e ter passado uns 10 minutos mostrando a língua pra ela, aconteceu uma coisa que me pegou desprevinida... me deixou em choque mesmo...
Quer dizer, foi uma coisa boa, meio confusa, meio inexplicável que eu senti... na verdade, eu sinceramente não entendi até agora...
Ela mal falava... não tinha me conhecido antes... ela não tem nem mesmo dois anos de idade... e aí, quando eu fui abaixar pra dar um 'tchau' pra ela, do nada, sem qualquer aviso prévio... ela que tinha dado 'tchau' de longe pra todo mundo que estava comigo... me abraçou, me deu um beijo e falou assim: 'eu te amo'.
'Eu te amo'... simples assim... 'eu te amo'... na hora eu nem soube o que fazer... quer dizer, ouvir isso de uma pessoa "crescida" não causa tanto impacto... na verdade, quase nenhum, porque na maioria das vezes isso é hipocrisia mesmo...
Entretanto, ouvi-lo assim de surpresa, de uma criança que não sabe mentir... bom, que não sabe nem falar direito, que de vez em quando ainda tropeça nas próprias pernas porque não anda direito... logo de manhã cedo... depois de um abraço gostoso e de um beijo...
Eu poderia dizer que certamente não existe nada melhor do que isso... mesmo que ela tenha falado por falar, que daqui a alguns anos ela já nem se lembre mais de mim, ou do que ela me disse... eu sei que eu não vou esquecer...

sábado, 18 de agosto de 2007

Clássicos (...)


Bom, dando um tempo com as historinhas bonitinhas agora... hoje aconteceu uma coisa, no mínimo... curiosa...
Sabe, todo mundo diz que as nossas idéias são influenciadas pela mídia... hoje eu comprovei isso...depois de muito tempo longe dos filmes de terror, hoje de manhã eu acordei e por acaso, me deparei com um deles... esse filme, não era necessariamente um clássico, por assim dizer... era uma das continuações desses clássicos... Halloween H20... e que Deus me perdoe por ter perdido quase uma hora e meia com aquilo...
O elenco era... bom, Jamie Lee Curtis ("True Lies" e... bom, "Sexta-feira muito louca", sendo esse segundo mais assustador que o filme em questão...), Josh Hartnett (bom... dizer o quê? Ele é lindo... "40 dias e 40 noites", "Pearl Harbor", "As Virgens Suicidas" - o melhor deles, na minha opinião... - e recentemente, "Xeque - Mate", "Dália Negra e um pouco mais atrás, "Divisão de Homicídio"), Michelle Williams ("Dawson's Creek" - uma das séries que eu mais gostava... - e "O Segredo de Brokeback Mountain" - "Senta... eu sei que senta..." ahahahahahahaha), LL Cool J - em sua fase gordinha... - (o cara é rapper, mas participou de "House", então merece meu respeito ^^).
Bom, tem também o Joseph Gordon-Levitt (acho que é isso), que fez "10 coisas que eu odeio em você" e "3rd rock from the sun", e aquela menina que é a musa num dos filmes do Freddie Prinze Jr. e também no "Correndo Atrás"... deu pra ter uma idéia?!
O que eles todos têm em comum? Resposta: trabalham direcionados para o público jovem (claramente subestimado nesse filme...).
Isso, muito bom... agora, considere, por favor, um roteiro escrito pela própria Jamie Lee Curtis... ela devia realmente continuar sendo apenas atriz...
Eu não li as críticas pra esse filme, e sou nova demais pra me lembrar dos comentários feitos sobre ele quando estreou aqui (eu tinha 8 anos de idade...). É estranho e eu estou decepcionada, sabe? Quer dizer... eu cresci ouvindo pessoas falarem sobre "Halloween's" e "O Massacre da Serra Elétrica('s)"... o segundo, eu assisti há algum tempo atrás... mas, a menos que os outros "Halloween's" sejam realmente muito bons, eu preciso dizer... meu mundo desabou... (risos)
Mas, enfim... com certeza, superarei esse trauma...
A questão é: até que ponto somos levados a acreditar nas coisas? Até que ponto nos deixamos influenciar?
Só posso dizer que depois de hoje, com certeza, eu não vou mais me deixar levar pelos impulsos de comprovar por mim mesma a qualidade de certos filmes... não vale a pena, muitas vezes...

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Príncipe Encantado (?)




Um dia qualquer, férias de verão. O que acarretava... emprego de verão!!! Porém, nada muito pesado... um turno vez ou outra na loja da mãe, o que não era muito pesado até Natal e Ano Novo chegarem. Na época com 14 anos, ela não acreditava em contos de fada. Ao contrário, se achava velha demais pra isso. Não conseguia sonhar, não tinha esperanças ou expectativas de que um dia ela encontrasse um "Príncipe do Cavalo Branco".
Bastante insegura, ela tinha um ponto forte. Algo em que sabia (ao menos na época...) que ninguém poderia superá-la... o inglês.
No meio do dia, movimento fraco, ela estava sentada no estacionamento onde ficava a loja. Reparou que um moço entrava na loja, nada demais. Afinal, é raro homens que gostem de flores... mais um cliente comum, como outro qualquer. A moça que estava lá iria atendê-lo e, talvez, vender. Mas provavelmente não. As pessoas costumam guardar dinheiro para o Natal durante essa época.
Eis que a moça que estava lá dentro pede a ela que atendesse o moço que havia entrado. Questionada sobre o por que disso, a moça lhe diz:
-É que ele não fala Português...
Ela, então, "toda toda" foi atender o rapaz. Qual foi a sua surpresa quando ela olhou realmente para ele (afinal, quando ela atendia, precisa passar convicção para os clientes... e isso na maioria das vezes se dá pelo contato visual). Era um rapaz lindo.
Não que você olhasse e dissesse: 'Legal...'. Não. Ele era lindo. Mais ou menos 1,90m de altura, porte atlético, cabelos louros com um franjinha que o fazia parecer um garoto caindo pelos belos olhos azuis, ressaltados pelo piercing que ele tinha na sobrancelha. Extremamente educado. Ele a chamava de 'Ma'am', ainda que ela insistisse que não o fizesse, porque se sentia velha com isso.
Ele elogiou a pronúncia dela (e o que isso fez com o ego da garota foi impressionante!), perguntou se ela já havia morado fora. Ela, envergonhada até a alma, disse que não.
Ele foi embora, dizendo um 'Obrrrrrrrrigadooooooooooou' com um sotaque adoravelmente carregado. Completou com um 'Beijos para todos' que fez até mesmo os funcionários homens ficarem encantados com ele.
(...)
Anos depois, depois de lembrar-se dessa história ao contá-la para uma amiga, ela parou um pouco e pensou sobre isso.
E era assim. Exatamente assim. Como aquele moço estrangeiro que entrou na loja, naquele verão. Se ela um dia tivesse acreditado em 'Príncipes do Cavalo Branco', aquele rapaz seria a personificação de todos os seus devaneios.

quarta-feira, 1 de agosto de 2007


Mais um dia havia começado. E o que ela sentia era indescritível. Fazia tanto frio, mas por suas roupas, ela parecia não se importar. Ela sentia as mãos congelarem, mas gostava da sensação. Gostava do frio, mesmo sabendo que eventualmesnte, toda essa exposição lhe causaria uma gripe. E como sua resistência era fraca!...

Uma vontade incontrolável de gritar. Um misto de frustração e alegria que não era possível explicar (nem mesmo o mais articulado dos escritores poderia, ela tinha certeza). Era como se o mundo estivesse prestes a desabar sobre sua cabeça, e isso não lhe preocupasse nem um pouco.

Ela sempre gostara de músicas. Mas aquelas modinhas, sabe? Tudo teve sua época... Há pouco tempo, um momento Flashback lhe fez baixar da internet músicas que ela não ouvia há séculos (e não seria essa a medida de anos de um adolescente - "séculos"?). Fez baixar também músicas que normalmente, não lhe causariam nenhum impacto. Como uma que a viciou de tal forma, que ela não consegue parar de ouvir. E o que teria de atraente? Quer dizer, além do sotaque britânico maravilhoso do vocalista (que aliás, junto com seus belos olhos azuis são as únicas que qualidades que se podem ressaltar naquele sujeito!)?

"É exatamente como o céu", ela pensava... nada havia provocado semelhante reação nela.

Voltando à sua vontade de gritar... não era uma coisa perdida, qualquer. Era exatamente essa música que ela queria gritar. Não a música toda, mas uma parte especial dela... se bem me recordo, ela era mais ou menos assim:

"...'Why are you so far away?' she said

'Oh, won't you ever know that I'm in love with you?'..."

Porém, ela não conseguia. Não admitia nem mesmo para si mesma que estava apaixonada por alguém. Nunca admitira antes, quanto menos gritar. Aliás, ela só gritava quando estava muito nervosa. Em geral, sua voz era bastante baixa...

Se lembra de ter gritado uma única vez. Quando era pequena (não tanto, devia ter uns 10 ou 11 anos)... algo a perturbava, mas ela não se lembra. Se lembra apenas de ter gritado, na escola, num Dia das Bruxas. Eles aumentaram a música e mandaram que eles gritassem. E ela gritou. E se lembra de nunca ter se sentido tão aliviada.

Mas agora, uma adolescente, pra quem tudo normalmente tomas proporções exageradas (e isso o que ela pensava, que seus dramas eram os piores de todos), ela não tinha mais essa chance. A menos que atendesse a um show de rock, pois caso contrário, a escola já havia acabado. E tão cedo... ela era tão nova!

Mas algo a amedrontava, quanto a admitir isso. Embora todos ao seu redor soubessem, embora todos já houvessem percebido, ela insistia em dizer que nada acontecia.

Talvez o fato de saber que, se admitisse isso pra si mesma, ela ficaria vulnerável. E não dependeria de ninguém, além dela. E ela não estava pronta para enfrentar isso...

terça-feira, 31 de julho de 2007

Jaded


Ela fugia sempre. Ela tentava não se envolver. Parecia insensível a tudo.
Ela não queria sofrer. Ela não queria chorar. Sempre a mesma vida. Sem emoções.
E a sala cheia ao seu redor não lhe provocava reação alguma. O espetáculo que se passava ao seu redor não lhe dizia nada. Nada importava.
Ela olhava sem entender, as pessoas que riam, que batiam palmas (e pasmem, até mesmo aplaudiam de pé frente a algo que parecia inacreditável!!!), que se emocionavam quando o quadro era trágico. Via lágrimas rolarem pelas faces dos mais passionais. E continuava sem entender. O que os deixava daquele jeito? O que era tão importante pra ele? Afinal, eram apenas pessoas fingindo algo. Elas eram pagas para aquilo. O que havia de emocionante?
Mas ela nunca perdeu sequer uma noite de sono por isso. Ela não se importava.
Foi quando ela se deparou com um espelho... não daqueles que imaginamos quando nossa mães nos contam aquelas historinhas de dormir. Era um espelho qualquer. Entretanto, um espelho peculiar, único. Em plena sala, ele estava embaçado.
Talvez fosse apenas um sonho, quem se importa? Ela tinha tudo o que poderia querer. Nada poderia derrubá-la. Afinal, ela não entendia.
Esse espelho, e sua característica mais marcante é essa, lhe concedeu um desejo.
A menina, até então, alheia a tudo e todos, tomada por súbita curiosidade, pediu para sentir.
Provavelmente assustada, saiu correndo depois disso. Voltou ao espetáculo. Quando viu a comoção de todos ao seu redor novamente, ela simplesmente saiu em busca do espelho (seria isso preocupação?). Quando o encontrou, ele lhe indicou uma prateleira de livros, na biblioteca da enorme sala. Ela então, foleou o livro. Era um daqueles livros lidos pela mamãe antes de ela ir dormir. O espelho lhe mandou "encontrar a floresta". Estranho, não?
Em meio a tantas histórias, logo essa? "Alice no País das Maravilhas"... as personagens do livro, tão excêntricas quanto as do espetáculo que antes, não lhe despertou sentimento algum.
Vendo tudo aquilo, ela se deixou levar pelas lembranças. Entrou em um mundo há muito tempo esquecido, no fundo de sua memória.
Sentiu seu coração se aquecer de repente, e em meio àquelas recordações, sentiu que seu rosto (ou ao menos, parte dele) era aquecido também. Antes que pudesse conter o que estava acontecendo, sentiu um gosto salgado na boca.
O espelho, à sua frente, de repente mostrava uma nítida imagem: seu desejo havia sido concedido.
Algo desconhecido por ela até então. Ela se sentiu surpresa, emocionada, confusa, feliz, triste, tudo ao mesmo tempo.
Mas já não tinha mais medo de sentir. Ao contrário, sabia agora o que muitas pessoas passam a vida sem descobrir: que para dar o valor merecido ao que nós temos, é preciso saber primeiro a dor que nos traz viver sem isso.
Agora, tudo tinha um sabor especial para ela. Nos espetáculos, ela se encontrava naqueles personagens tão excêntricos que uma vez lhe causaram repulsa. Ela sabia o que eles tentavam passar. Pela primeira vez, ela pôde ver que por mais diferentes que nós sejamos, nossas reações diante de muitas coisas são as mesmas.
E ela soube que, daquele momento em diante, sua vida nunca mais seria a mesma. De fato, não poderia ser melhor. Mas que o dom que lhe havia sido concedido seria guardado, como o mais valioso tesouro. Porque ela entendia o que era viver sem ele.

Recomeçar


Era um dia qualquer, ao menos, parecia ser... ela não sabia o que ia contecer, como nunca antes soubera...
Eles se encontraram pela primeira vez, ela não sabia o que fazer. Provavelmente, ela ficou completamente vermelha, como sempre fica quando está nervosa. Mas ela não sabia ao certo, somente achava. Não podia ver. Ela tremia incontrolavelmente enquanto segurava aquele cafezinho. Se não fosse uma situação tão nova, com certeza, ela teria achado engraçado.
Ela sempre foi uma menina boazinha, sempre obedeceu às regras. Até àquela noite. Ela não sabia que se sentiria daquele jeito. Ela não queria ter se sentido daquele jeito.
Ela passou tantos anos construindo muralhas ao seu redor. Ela não queria deixar ninguém se aproximar. E na maioria das vezes, ela tinha sucesso... mas não dessa vez. Provavelmente foi uma manobra involuntária, ela não percebeu o que estava acontecendo. Ou percebeu, mas simplesmente não importava mais.
Eles conversaram um pouco na hora da entrada, e as duas primeiras aulas foram rápidas demais, pois ela não prestava atenção. Ela nunca prestava, na verdade... mas dessa vez estava ainda mais alienada que nas outras...
A hora do intervalo chegou, e ela não conseguia parar de pensar naquele menino que tinha conhecido há tão pouco tempo... ela não entendia por que...
Quando eles se sentaram numa mesinha e começaram a conversar, era como se nada mais existisse... ela não queria sair dali, não fazia sentido algum sair dali.
Pela primeira vez na vida, ela não entrou para a aula. Ela tinha tanto medo que a mãe dela descobrisse... ela estava absolutamente amedrontada. Mas tudo isso ficava tão longe... ao menos do lado dele...
É como se o mundo inteiro tivesse sumido enquanto eles conversavam... ele arrancava aquilo dela, de alguma forma... perto dele, todos os medos dela vinham à tona e depois sumiam, sem deixar vestígios ou as habituais conseqüências, como se fossem apenas uma lembrança distante de um tempo que havia acabado.
Era como se ele soubesse exatamente tudo o que ela pensava, o que ela queria e o que ela temia... é como se "ele" trouxesse à tona todos os medos dela para depois fazê-los irem embora...
Quando começou a chover, ela desistiu completamente de ir pra classe... alguma coisa naquele menino a deixava fascinada. Provavelmente ela nunca entenda por que... com ele, ela não precisava falar, mas falava e ele parecia entender. Era estranho se sentir daquele jeito. Como se todas aquelas muralhas nunca tivessem sido necessárias, como se ninguém fosse capaz de atingi-la. Pela primeira vez em muito tempo ela não teve medo. Ela pôde mostrar, ao menos uma vez e à uma pessoa quem ela ralmente era... ela não quis ficar longe, ela não conseguia. Alguma coisa a prendia ali.
E todas aquelas muralhas que ela passou tanto tempo construindo tivessem ruído de repente (ela usa exatamente esse termo, lembra-se vagamente de tê-lo ouvido em um filme e tê-lo anotado em sua agenda há muitos anos atrás). De alguma forma, ainda que com muito pesar ela fale sobre isso, ela não quer esquecer. Ela se recusa a fazê-lo. Porque tudo o que ela quer é se sentir daquele jeito de novo. Porque ela precisa sentir como se alguém fosse realmente lutar contra os seus medos.
Porque ela sabe que nunca vai ser igual àquele dia. Mas ela sabe, também, que não há nenhum sentimento melhor que aquele.
E ela sabe que precisa se desapegar dessa lembrança, até que consiga pensar nela sem chorar. Até que consiga pensar nela como apenas uma lembrança... uma das melhores, uma das mais significativas... e sem dúvida uma das que ela tem mais medo de perder.